Sobre a iniciativa Lídio neuroafirmativo
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Como aponta seu estudo na área da musicoterapia, Sampaio, Loureiro e Gomes (2015), pessoas autistas possuem uma boa disposição para a música.
A literatura sobre Autismo relata uma intensa relação das pessoas com tal transtorno e a música, sendo considerado o aspecto não-verbal da música o principal meio de engajamento entre a pessoa com TEA e seu interlocutor, seja quando apresentada uma música puramente instrumental, ou em situações de um texto cantado ou narrado. É o que corrobora (ALVIN, 1978; BALL, 2004; BROWN, 1994; BROWNELL, 2002; BUDAY, 1995; EDGERTON, 1994; MALLOCH; TREVARTHEN, 2009; OLDFIELD, 2001; ROBARTS, 1996).
No entanto, a música fabricada no ocidente é majoritariamente baseada na harmonia funcional, ou seja, no campo harmônico maior e menor. Este tipo de música já havia dado sinais de esgotamento no final do século xix e causa nos ouvintes neurotípicos uma espécie de cansaço, de esgotamento. Se tal música causa esta sensação de estafa não posso imaginar o que isso tem causado às mentes autistas que são mais sensíveis. Tudo indica que devido a peculiaridades da mente autista não é qualquer música que seria ideal para os mesmos ou que fossem expostos a qualquer música. A mente autista pode ser muito sensível a estímulos sonoros. E por exemplo, canções que se utilizam de tensões e distensões seriam incômodos para os mesmos por serem muito demandantes, exigirem muito do campo emocional.
O problema é que são essas musicas tensas a que predominam no mundo ocidental. Elas estão no rádio, na rua, na boca do povo, nos jogos e na TV, expondo o autista a uma série de estímulos e comprovando a tese de que vivem num mundo feito para outras pessoas, as pessoas neurotípicas. Assim, surge a proposta das canções em Lídio. Ao passo que a mente autista demanda previsibilidade, segurança e não exigência, as canções em Lídio seriam complementares, senão ressonantes com a mente autista. Isso por serem previsíveis, não demandantes e abrirem espaços para fantástico, para o maravilhoso e o encantamento, podendo ser úteis em crises e em melhorar a comunicação e interação das pessoas autistas. A mente autista seria a fechadura e a música em lídio a chave. Imagine a música feita a partir da harmonia funcional, em escalas maiores e menores como uma escadaria que você sobe, sobe e no final, no último degrau, você descansa. Na música em Lídio ocorre o mesmo. No entanto, o último degrau não é apenas um lugar de descanso, mas devido a presença da nota característica, trata-se de um degrau mágico, dourado que te serve como trampolim para alcançar as nuvens. É esta a experiência que estamos tentando proporcionar ao mundo e ao público autista, em criar um mundo sonoramente mais seguro, mais confortável. É neste sentido que se insere o projeto Lídio Neuroafirmativo
Trata-se de uma inovação, um projeto pioneiro, pois é projeto musical centrado, fundado no cuidado, diferindo radicalmente de outras iniciativas por aí.
Nosso objetivo consiste em basicamente, fundamentalmente criar canções em Lídio
E temos como objetivos mais específicos:
– Criar canções em Lídio para o público autista
– Desenvolver canções em lídio sobre Neurodivergência para o público neurotípico
– Desenvolver outras canções em Lídio para o público neurotípico, ou seja, levar as outras pessoas perceberem como funciona a mente autista já que existiria grande similaridade entre a escala lídio e a mente autista.
Acredito que devido ao grau de ressonância, de similaridade entre mente autista e a escala Lidio, as canções feitas a partir desta escala, possam contribruir para o bem estar deste público e de seus cuidadores, talvez constituindo no futuro em relevante prática terapêutica a ser reconhecida. Acredito também que pelo caráter do Lídio, as canções em lídio possa se constituir em alternativa, um oasis em relação a música demandante. Para isso, o projeto Lidio neuroafirmativo se organiza em torno dos seguitnes projetos:
1 Escalada Lídio
Visa compor canções terapêuticas para o público autista. Estas canções serão criadas por meio de softwares de composição musical como o Finale, MuseScore e Fruit Loops e também de maneria artesanal, convencional, usando viola de dez cordas. Estas canções terão o objetivo de auxiliar na regulação emocional de autistas.
2 Duolídio
Prática que ajuda duas pessoas a criar intimidade por meio da música em Lídio. Nesta prática, o compositor, improvisador, ajuda os envolvidos (a desenvolver uma Jam session onde o autista é se torna protagonista da atividade de compor). Neste projeto, o neurotípico toca uma escala em lídio, posteriormente, depois de algumas execuções, convida a pessoa autista e começa a improvisar em cima da escala. O autista poderá responder positivamente a iniciativa ou ainda continuar em isolamento, mas respondendo de maneira positiva ao convite.
3 Family Lídio
Prática (também do tipo Jam session) onde a interação e comunicação é estimulada por meio da música Lídio. Tal como em duolídio, o compositor de posse de um instrumento inicia um loop em lídio, de onde emerge uma melodia e os incrementos, mudanças e variações nesta é dada pelo ambiente e inclusive pelo autista que pode coordenar a composição. O loop oferece estrutura, previsibilidade, segurança, a melodia expansão e ao ter suas contribuições acatadas e desenvolvidas pelos integrantes da sua família, amplia o senso de controle e a comunicação e interação. Esta prática pode contribuir para desenvolver aptidões em outras áreas de vida do autista.
4 Ensinando o Lídio
Com a intenção de descentralizar a composição em Lídio e torná-la acessível a todas famílias, relacionamentos atípicos, trata-se de projeto que ensina as pessoas a comporem peças musicais em Lídio. A esperança é que quanto mais ampliar o acesso das famílias atípicas a composição em lídio, amplia-se a possibilidade de regulação emocional acessível e a um custo zero, trazendo maior qualidade de vida ao autista, sua família e cuidadores.
5 Canções neurodivergente para mentes neurotípicas
Visa por meio da música em lídio, colocar a neurodivergência em pauta e defendê-la ou apenas compor canções em lídio sobre qualquer tema o que, não deixa de ser um ato político já que, na ausência de uma mente autista, a escala lídio é que melhor lhe representa.
Relevância
Trata-se de projeto relevante, pioneiro, inovador e inédito, pois cria um tecnologia social de regulação altamente acessível e a um preço zero. No mais, propõe e cria-se ambientes sonoros seguros para autistas. Trata-se de projeto terapêutico. No entanto, musical e político ao mesmo tempo. Afirma a neurodiversidade ao invés de procurar curá-la.
O subtítulo “Música Neuroafirmativa” é a âncora que define claramente o propósito, o território e a filosofia do projeto. O projeto Lídio Neuroafirmativo é um projeto que transforma o estado de fluxo profundo em conexão e criação. Utilizamos a música em lídio para criar produtos e experiências que celebram a mente neurodivergente, promovendo bem-estar e comunicação neuroafirmativa. LNA, Música Neuroafirmativa é um manifesto em favor das mentes neurodivergentes.



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