Qual modo usar para compor canções para uma pessoa autista?

João Batista
By João Batista setembro 7, 2025 16:55

Sou compositor e gosto muito de compor usando os modos da escala maior (chamado também de modos gregos). Ao todo são sete modos: Jônio, Dórico, Frígio, Lídio, Mixolídio, Eóleo e Lócrio. Uma escala é um padrão de notas pré-definidos usados por um compositor para compor uma canção e da mesma forma, um campo harmônico é um padrão de notas pré-definidos usados para criar uma harmonia. Cada modo possui um sabor, uma atmosfera e um estado de espírito diferente. Qual escala eu indicaria, qual seria mais propícia para você compor uma música para pessoa autista?

Para alguém que processa o mundo de forma intensa, literal e sensorial (como muitas pessoas autistas), a cor emocional de um modo musical pode ser sentida de forma muito profunda e concreta. Não existe um modo “correto”, mas existem modos que, pelas suas características, podem ressoar de forma mais segura, reconfortante e bela. Minha sugestão vai na linha de evitar tensões excessivas e oferecer uma paisagem sonora que seja acolhedora.
Eis uma análise, do mais propício ao mais ousado:

1. Lídio (#4) – Seria o modo da maravilha e da aceitação

• Característica: A nota elevada (#4) que soa como “dó sustenido” em dó maior. Ela não é dissonante; é flutuante, questionadora e expansiva.
• Por que pode ser perfeito: O Lídio não tem a tristeza inerente do modo menor, mas também não é tão direto e “quadrado” quanto o Jônio (Maior). Ele soa como curiosidade, assombro positivo e aceitação de coisas belas e incomuns. É o modo da abertura, não do julgamento. Pode capturar perfeitamente a sensação de admirar a mente única da pessoa autista sem querer mudá-la.

• No caso, se for uma parceira, um caso de duolídio, use para expressar admiração, curiosidade e a sensação de que ela expandiu seu mundo.

2. Mixolídio (b7) – O Modo da Calma e da Comunidade

• Característica: A sétima menor (b7) em relação à tônica. É o modo do rock, do blues, mas também da tranquilidade e acolhimento.

• Por que pode ser perfeito: O Mixolídio é caloroso, familiar, mas não é açucarado. Ele tem uma resolução suave e relaxante. Não impõe, não exige; ele convida. É incrivelmente confortável de se ouvir, como um abraço sonoro. É o modo da conversa entre amigos, da confiança construída.

Em duolídio: Você poderá usá-la para canções sobre companheirismo, conforto e a alegria tranquila de estar perto dela.

3. Dórico (b3, b7) – O Modo da resiliência e da beleza melancólica

• Característica: Um modo menor, mas com a sexta maior (6). É triste, porém otimista. É o modo da força na dor, da luz no fim do túnel.

• Pode ser potente: Se você quer abordar temas de superação, de se sentir diferente ou das lutas internas de uma forma belamente melancólica mas não depressiva, o Dórico é insuperável. Ele concede dignidade à tristeza e à complexidade. Pode ser profundamente reconhecível para alguém que navega um mundo não construído para ela.
• Use com cuidado: É um modo mais introspectivo. Use para mostrar que você a vê e a respeita em sua totalidade.

4. Jônio (Maior Natural) – O Modo da clareza e da alegria pura

• Característica: A escala maior tradicional. Feliz, resoluta, direta.
• Por quê pode ser usado?: A clareza é um superpoder. Uma música em Jônio, com uma letra literal e honesta (“Eu gosto de você”) é inequívoca. Não há metáforas escondidas na harmonia. É uma declaração solar e aberta. Pode ser muito bem-vinda para uma mente que aprecia literalidade.

• Aviso: Pode soar muito “óbvio” ou “açucarado” se não for bem trabalhado. Combine-o com letras muito específicas e genuínas para evitar clichês.

Ao usar o modo jônio deve-se evitar o V grau da referida escala, senão você cai na harmonia funcional, empobrecendo a música e gerando tensão que, poderá atormentar a mente dela.

Modo que devem ser evitados, ou seja, modos que eu não indicaria:

• Frígio (b2, b3, b6, b7) – O modo é ameaçador, sombrio e tenso pelo semiton entre a tônica e a segunda menor. Pode evocar ansiedade e desconforto de forma não intencional.

• Lócrio (b2, b3, b5, b6, b7) – O modo mais instável e dissonante. Evite completamente para este propósito.

Sugestão final de composição:

Crie uma peça que comece em Lídio (capturando a maravilha e a singularidade dela), transicione para Mixolídio (estabelecendo a sensação de conforto e conexão) e termine em Jônio (com uma declaração final clara, feliz e resoluta). Isso contaria uma história musical completa: do encantamento, para a familiaridade, para a celebração.
Este seria um belo presente para oferecer a uma pessoa autista.

O mais indicado de todos

O modo que eu mais indicaria seria o modo Lídio por existir uma complementariedade entre mente autista e modo lídio.

João Batista
By João Batista setembro 7, 2025 16:55
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