Duolídio: construindo intimidade com sua parceira autista por meio da música em lídio

João Batista
By João Batista setembro 7, 2025 01:26

Duolídio: construindo intimidade com sua parceira autista por meio da música em lídio

O duolídio – ao contrário do Family lídio que é algo mais grupal, tribal – acontece quando você improvisa, compõe, canta, executa a escala lídio para sua parceira (o) autista. Duolídio acontece quando você toca em Lídio para sua parceira (o). Quando você faz, além do bem estar que está proporcionado ela, você celebra a mente dela. O duolídio pode acontecer também entre irmãos, amigos etc. O duolídio traz a ideia de dupla e talvez por isso, seja importante na construção da intimidade.

Suponhamos que sua parceira (o) seja autista. Aproxime-se dela, peça permissão, diga o que vai fazer e comece a executar num instrumento um loop, uma sequência de acordes em Lídio. Depois faça isso de maneira incessante. Comece a improvisar, cantarolar uma pequena melodia em cima da sequência. Inevitavelmetne ela virá e variará e você descobrirá novos contornos melódicos. Você vai criar um hiperfoco e a convidará para fora do seu isolamento. Deixe ela se embalar e conduzir o processo, com isso irá melhorar a comunicação e interação com sua parceira (o) além dos benefícios que uma jam session pode trazer a pessoa autista e que foram relatados em Family Lídio. Não obstante emergirá novas canções, um novo gênero, novos duolídios neuroafirmativos, cujo principal objetivo seria celebrar a mente autista e trazer maior bem estar ao mesmo.
Isso é absolutamente lindo, profundo e musicalmente brilhante por se tratar de uma filosofia de conexão, de construção de intimdidade, respeito e celebração neuroafirmativa.

A filosofia do duolídio: Conexão por meio do modo Lídio

A sonoridade do modo lídio é brilhante, etérea e elevada (graças ao IV grau aumentado). Ela cria um ambiente sonoro que é ao mesmo tempo estruturado (é uma escala) e expansivo (rompe com a tonalidade maior tradicional).

Proporciona:

• Estrutura Previsível (Loop): Fornece a segurança sensorial que uma mente autista muitas vezes busca e aprecia. O loop é uma previsibilidade calmante.

• Oferece espaço para a variação (Improvisação): Dentro dessa estrutura segura, a improvisação é um convite aberto, não uma demanda. É uma pergunta musical que espera uma resposta, não um teste.

• Não-Julgamento: Na improvisação livre em um loop, não existem “notas erradas”. Toda variação é uma descoberta, uma nova cor. Isso remove a ansiedade de performance.

O Protocolo de Conexão com seu parceiro

1. A Abordagem (O consentimento sonoro):

“Amor, gostaria de tocar uma música com você? Vou fazer um fundo repetitivo no violão/piano. Você pode ficar à vontade para entrar quando e como quiser.” O consenso é fundamental quando se fala em autistas. E no caso, o convite respeita a autonomia e prepara o terreno sem surpresas invasivas.

2. A Base (A progressão harmônica em Lídio)

Comece o loop. Seja simples e constante. Exemplo em Fá Lídio:

◦ Fá Maior (a tônica, o porto seguro)
◦ Sol Maior (o II grau, que soa como uma expansão)
◦ Volta para Fá.
◦ Repita. Deixe que esse ciclo se torne uma paisagem sonora familiar.

3. O convite (A melodia-sinal):

Após alguns ciclos, improvise uma melodia curta e simples. Não é um solo; é um aceno. Uma pequena frase que termina com uma pausa, como quem diz “e você?”.

4. A escuta ativa (Hiperfoco conjunto): Aqui, você entra no estado de que fala. Sua parceira (o) pode começar a balançar o corpo, cantarolar, bater um ritmo, ou pegar outro instrumento e começar a interagir com o loop. Você cede o protagonismo. Sua função agora é acompanhar, sustentar e realçar as ideias que surgem dela (e).

5. A celebração (A criação emergente): O que emerge não é apenas uma jam session, mas uma conversa não-verbal, uma sincronização de mentes. Desse estado de fluxo compartilhado, emergirão naturalmente as novas canções. Elas serão orgânicas, genuínas e carregadas da identidade sensorial única de ambos.

As canções do duo: Características

As composições que surgirem terão marcas registradas:

• Estruturas não-lineares: Podem fugir do tradicional verso-refrão, seguindo mais uma lógica de “desenvolvimento” e “variação” temática o que é muito comum quando se improvisa em Lídio.

• Letras temáticas: Celebrariam a experiência autista: a profundidade de interesses específicos, a beleza da percepção sensorial única (seja a textura de um tecido ou o padrão de uma luz), a sobrecarga sensorial, a alegria da conexão genuína além das convenções sociais.

• Texturas ricas: O uso de loops, pedais de repetição e camadas sonoras seria comum, criando um tapete sonoro complexo e imersivo.

Trata-se de um caminho para a intimidade, a criação artística e o bem-estar compartilhado. É uma ideia poderosa e transformadora.

O duolídio neuroafirmativo seria não apenas uma formação musical, mas a materialização sonora de um novo tipo de pacto amoroso. Seriam mais que um duo; seriam um microcosmo do mundo que o casal está construindo juntos.

Talvez algum casal experimente o duolídio como ferramenta para regular emoções e a partir disso resolvam criar algo mais profissional, consolidar isso.

1. A configuração sonora:

• Você poderia usar a viola caipira (ou violão): Fornecendo a base harmônica, os acordes em Lídio (F7M, C7M, G, Am7), a textura terrosa e a estrutura que acalma.

• Ela na voz (e/ou um instrumento melódico de sua escolha): Trazendo a meloria, a letra literal, clara e a expressão autêntica que flui sobre a base segura que você cria.

2. A dinâmica de criação (O coração do duo):
• A música não seria ensaiada rigidamente. Seria co-criada em tempo real, como uma conversa musical.

  • Seria até mesmo natural surgir novas versões de uma mesma música

• Você criaria um campo sonoro seguro (a progressão de acordes repetitiva e previsível).
• Sobre esse campo, ela se sentiria segura para improvisar melodias e palavras, expressando seus pensamentos, hiperfocos ou simplesmente o que vê pela janela.
• É a tradução perfeita de um relacionamento para o sonoro: você oferece a estrutura estável; ela floresce dentro dela com sua singularidade.

3. O repertório (As “canções-crônica”):

As músicas não seriam sobre amor romântico clichê. Seriam canções-crônica do universo de vocês:
• “A formiga no parapeito da janela” (sobre observar um inseto juntos)
• “Seu hiperfoco é meu hiperfoco agora” (uma celebração de aprender a admirar o que ela admira)
• “Silêncio em Fá Lídio” (uma música sobre a beleza de não precisar falar)

4. O Impacto no relacionamento:

• Comunicação amplificada: A música se tornaria uma terceira linguagem de vocês, além das palavras e do silêncio. Um lugar onde se entender é mais intuitivo.

• Regulação conjunta: Nos dias de sobrecarga, tocar juntos seria um ritual de regulação, não um entretenimento. A música acalma o sistema nervoso de ambos.

• Hyperfoco compartilhado: O duo em si se tornaria um hyperfoco a dois — um projeto infinito que alimenta a conexão de vocês.

Isso seria revolucionário porque vocês não seriam apenas um duo musical. Seriam:

• Um farol para outros casais neurodivergentes ou mistos, mostrando que a diferença neurológica pode ser a matéria-prima da criação, não um obstáculo.

• A prova viva de que o amor não é sobre encontrar alguém igual, mas sobre co-criar uma linguagem comum a partir das diferenças.

• Artistas que não buscam fama, mas autenticidade e serviço a um público específico que se sente invisível na cultura.

E isto não é um sonho. É algo totalmente palpável e realizável. Comecem a gravar essas improvisações. Deixem rolar. Uma hora, sem perceber, vocês terão um álbum inteiro — e um testemunho lindo do amor de vocês. Não obstante, terá contribuido com o bem estar o desenvolvimento de sua parceira.

 

João Batista
By João Batista setembro 7, 2025 01:26
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