Family Lídio: Benefícios para a pessoa autista

João Batista
By João Batista setembro 6, 2025 20:10

Family Lídio: Benefícios para a pessoa autista

“A escala lídio é realmente incrível. À medida que vai executando o loop de acordes dá para inserir frases que estão surgindo no meu pensamento, que estão ocorrendo ali no seio da família ou que fazem parte do cotidiano e da rotina desta família e o processo pode ser muito divertido”.

Existe muita coisa para se descobrir sobre a escala lídio em relação aos autistas e acho que esta é uma das camadas mais mágicas e terapêuticas do processo. Porque isso eleva a prática de um simples exercício musical para uma “Musicoterapia orgânica familiar’ ou para uma “Criação de trilha sonora da vida real”.
É a prova definitiva de que a estrutura Lídia não é uma jaula, mas um tapete mágico sobre o qual as histórias da família podem se desenrolar de forma lúdica e conectada. Que a nota característica como último degrau trata-se de um degrau dourado, uma espécie de trampolim para o céu, as nuvens e a liberdade.

Como isso funciona na prática:

1. A Improvisação lírica em tempo real

O loop instrumental vira um “beat” sobre o qual você pode cantar falando, quase como um rap suave ou uma narrativa cantada. A escala Lídia dá o clima de fundo, sonhador e leve.

2. Liberdade para inserir temas

Você pode cantar coisas como:
◦ As tarefas domésticas: “O João está lavando a louça… e a espuma vai subindo… tá ficando limpinha…”
◦ A cena do momento: “A Maria escolheu a meia verde… e o gato fugiu com a outra… olha a bagunça no corredor…”
◦ Elogios e celebrações: “Essa foi a panela que o vovô gostou… o arroz ficou perfeito… obrigada, cozinheira!”
◦ Narrativas absurdas e divertidas: “O ursinho de pelúcia quer dançar… ele invocou os sapos do jardim… para a noite do pijama…”

3. A participação de todos

Inevitavelmente, ninguém vai ficar de fora, alguém vai gritar uma sugestão de dentro do banheiro, ou começar a rir e acrescentar uma linha. Vira uma jam session de acontecimentos domésticos. E a palavra “jam session’ aqui é uma palavra-chave para o lídio neuroafirmativo onde quer que ele ocorra. A jam session é o caminho natural do Lídio e pode ser usado como modo pelo qual se afirma a neurodivergência. Isso é tão poderoso e neuroafirmativo porque:

• Transforma o corriqueiro em épico:

A atividade mais banal (guardar os brinquedos) vira uma aventura musical. Isso é puro engajamento lúdico.

• Registros afetivos:

Essas canções improvisadas se tornam memórias afetivas em forma de som. Anos depois, tocar aquele loop trará de volta a lembrança nítida daquele dia específico.

• Reduz a Pressão e o Tédio

Tarefas chatas ganham uma nova camada de diversão. A “hora de arrumar o quarto” vira a “hora de compor a trilogia da arrumação”.

• Validação e celebração:

Ao virar tema de música, a ação de cada um (mesmo a menor) é vista, celebrada e integrada ao história familiar. É um poderoso reforço positivo.

• Desenvolvimento de linguagem e ritmo: Para crianças (autistas ou não), é uma forma fantástica de trabalhar ritmo de fala, vocabulário e estruturação de ideias de forma totalmente natural e sem pressão. Ao praticar a Family lídio compõe-se a trilha sonora da sua própria família. Transforma-se o cotidiano em arte, e a arte em uma ferramenta de união e regulação emocional.

Isso é fantástico. E acho que isso é o cerne do que eu chamo de “Música neuroafirmativa” e a aplicação mais pura e bonita do conceito.

E quais os efeitos positivos da Family Lídio na vida do autista?

Os efeitos positivos dessa prática na vida do autista são profundos e abrangentes, tocando em aspectos sensoriais, emocionais, comunicativos e sociais. A combinação de estrutura previsível (o loop) com liberdade expressiva (a improvisação) cria um ambiente único de regulação e crescimento. Aqui estão os principais benefícios:

1. Regulação sensorial e emocional

• Redução da ansiedade: O loop repetitivo age como um “âncora sonora”, oferecendo previsibilidade em um mundo muitas vezes caótico e sobrecarregante. Isso acalma o sistema nervoso.

• Estímulo controlado: A música oferece entrada sensorial auditiva organizada, que pode ajudar a regular outras sensibilidades (ex: mascarar ruídos externos perturbadores).

• Expressão emocional segura: A improvisação permite que emoções complexas (frustração, alegria, medo) sejam externalizadas de forma não-verbal e sem julgamento.

2. Melhoria da Comunicação

• Linguagem não-Verbal: Autistas não-falantes ou com dificuldades de fala podem se expressar através do ritmo, melodia ou movimento corporal, encontrando uma “voz” alternativa.

  • Redução da pressão para comunicação convencional: Não é necessário usar palavras ou contato visual. A interação acontece através do som e do movimento, reduzindo a ansiedade social.

• Desenvolvimento de vocabulário: Inserir frases do cotidiano na música (ex: “o gato fugiu!”) associa palavras a contextos lúdicos e memoráveis.

3. Fortalecimento de vínculos afetivos

• Conexão sem demanda: O duo musical é uma forma de estar junto sem a pressão de interpretar nuances sociais complexas. O foco é a co-criação, não a conversação.

• Validação da identidade: O autista se sente visto e celebrado por sua forma única de se expressar (ex: seu balanço corporal vira parte da percussão, seu vocalizar vira a melodia).

• Criação de rituais familiares: As sessões musicais tornam-se momentos esperados e seguros, fortalecendo o senso de pertencimento.

4. Desenvolvimento cognitivo e criativo

• Estímulo ao hiperfoco produtivo: O interesse intenso típico do autismo é canalizado para uma atividade criativa e compartilhada, em vez de isolada.

• Flexibilidade mental: A improvisação dentro de uma estrutura fixa ensina a adaptar-se a mudanças sutis, exercitando a flexibilidade de forma segura.

• Organização de ideias: A música ajuda a estruturar pensamentos e narrativas (ex: criar uma “história” com início, meio e fim sonoro).

5. Empoderamento e autoestima

• Agência e controle: O autista pode liderar a improvisação, ditar o ritmo ou mudar a dinâmica, sentindo-se no comando da interação.

• Celebração das singularidades: Traços como atenção a detalhes, sensibilidade a padrões e paixão por repetição são valorizados como talentos musicais.

• Produtividade tangível: Criar uma música ou uma jam session gera um resultado concreto (“nós fizemos isso juntos!”) e isso aumenta a confiança.

6. Terapia indireta e natural

• Integração de terapias: A prática incorpora elementos de musicoterapia, terapia ocupacional (regulação sensorial) e fonoaudiologia (comunicação) de forma orgânica e não-clínica.

• Generalização de habilidades: Competências exercitadas na música (ex: vir a falar na improvisação) podem ser transferidas para outras situações sociais.

7. Prevenção e gestão de meltdowns/shutdowns

• Antecipação e fluxo: A prática regular cria um hábito de regulação proativa, previnindo sobrecargas antes que aconteçam.

• Ferramenta de recuperação: Em momentos de pós-crise, o loop familiar pode ser usado para reconectar e acalmar.

O poder dessa abordagem está em sua dualidade:

• Na  estrutura do loop, da progressão de acordes que oferece segurança.
• E na improvisação oferece liberdade.
Para uma mente autista, que muitas vezes luta com imprevisibilidade mas também anseia por expressão, esse equilíbrio é ideal. Não é “terapia”, é brincadeira séria — e é nesse espaço que a cura e a conexão verdadeiras acontecem. Ou seja, cria-se música, faz-se música, desenvolve habilidades musicais e o que é melhor, cria-se um ambiente neuroafirmativo seguro onde o autista pode florescer em seus próprios termos.

8 – Acessível 24×7 e é gratuito

As práticas envolvendo o Lídio não bastasse sua complementariedade com a mente autista são interessantes porque são acessíveis (qualquer pessoa, incluindo autistas podem colocá-las em práticas) e o preço é igual a zero, ou seja, não precisa pagar por isso.

João Batista
By João Batista setembro 6, 2025 20:10
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